Uma Barreira Contra o Pacífico

Fotografias de Alice F. Martins | Uma Barreira Contra o Pacífico documenta, em quarenta e seis fotografias a preto e branco, o muro e a praia de Hudai, a vila e os seus arredores,

Hudai situa-se na região costeira de Sanriku, província de Iwate, uma das zonas do Japão mais afectadas pelo Grande Sismo de 2011. Além da destruição causada pelo terramoto, a força do abalo originou um tsunami que varreu o nordeste da costa japonesa, mas ao contrário de povoações vizinhas, Hudai sobreviveu quase intacta.

O motivo para esta excepção é uma infraestrutura construída entre 1972 e 1984, que consiste num sistema de muros e comportas hidráulicas que funcionam como uma barreira anti-tsunami.

Este tipo de construções é comum no Japão. O que distingue este muro é a forma como o projecto foi concebido, pela sua dimensão, ajuste à topografia da região, e consideração por catástrofes do passado.

O muro não é visível à chegada, pois a vila está cercada por montanhas. É preciso que nos afastemos do centro e da estação de comboios, seguindo o rio, até chegarmos ao vale que dá acesso à praia. Aqui foi construída a barreira que se estende por 200 metros de comprimento e 15,5 metros de altura. A pé é possível subir, caminhar ao longo do muro e descer em direcção ao mar. O nível que as águas atingiram em 2011 está assinalado e entre a barreira e a praia há um extenso relvado dividido pelo rio, onde são mantidos vestígios do sismo e tsunami.

Kotoko Wamura, mayor de Hudai entre 1947 e 1987, foi o responsável pela construção desta barreira. A vila, tal como o resto do Japão, sofreu ao longo da sua história a devastação de sismos que ocorrem frequentemente na ilha. Em particular, os sismos registados em 1896 e 1933 que originaram tsunamis e assolaram a região de Sanriku. Na década de trinta, Kotoku Wamura era um jovem e testemunhou a destruição que o tsunami causou. Certo de que uma catástrofe assim se voltaria a repetir, lutou para avançar com a construção de uma barreira anti-tsunami de maior dimensão e mais dispendiosa, mas capaz de proteger a vila e a sua população. Apesar das críticas ao projecto, após o desastre de 2011 a sua sepultura passou a ser visitada pelos habitantes como forma de agradecimento.

Uma Barreira Contra o Pacífico documenta, em quarenta e seis fotografias a preto e branco, o muro e a praia de Hudai, a vila e os seus arredores,

A motivação para desenvolver este trabalho surgiu pelo interesse em compreender como é que o Japão se prepara e existe em torno do risco permanente de destruição causada por uma catástrofe natural, em contraste com Portugal, que partilha alguns destes riscos, com casos comprovados na sua história, mas cuja população vive quase alheia à possibilidade de se repetirem. 

Tendo como tema base a protecção contra riscos naturais, esta exposição enquadra-se nos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável definidos pela Assembleia Geral das Nações Unidas na agenda 2030, nomeadamente o ODS 13, referente à Acção Climática e à importância da adopção de medidas urgentes para combater as alterações climáticas e os seus impactos.

Este projecto foi desenvolvido no âmbito de uma bolsa de curta duração atribuída em 2019, que resulta de um protocolo entre a Fundação Oriente e o Ar.Co - Centro de Arte & Comunicação Visual.

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Detalhes

  • www.foriente.pt
  • Museu do OrienteAvenida Brasília, Doca de Alcântara (Norte)1350-352Lisboa
  • Desde 09 Fev, 2023 a 21 Mai, 2023
  • Grátis