O comércio do peixe preferido dos lisboetas para a ceia do Natal, o Bacalhau, já foi mais intenso, porém ainda resiste na rua que assistiu aos acontecimentos mais marcantes da história recente de Lisboa, do terramoto de 1755 à revolução do 25 de Abril e 1974.

A Rua do Arsenal fica próxima do Cais do Sodré e é o lar das lojas de bacalhau em Lisboa. Já foram 11 a ter o peixe seco que os portugueses adoram, e que é símbolo para os lisboetas da ceia de Natal.

Entretanto, a lenta transformação da Baixa de Lisboa para uma zona mais turística mudou o cenário. Mas continuam duas lojas: a Mercearia Pérola do Arsenal e o Rei do Bacalhau.

O comércio de bacalhau resiste na Rua do Arsenal, mas não o Arsenal que a batizou. E porque se chama assim?

Aqui funcionava um Grande Arsenal da Marinha, que foi destruído no Grande Terramoto de 1755, reconstruído e permaneceu no sítio até 1939, quando as operações foram transferidas para a Base do Alfeite, na Margem Sul do Tejo .

Enquanto funcionou na Baixa, o Arsenal da Marinha testemunhou acontecimentos explosivos da história de Portugal, inclusive a morte de um rei, D. Carlos I, em 1908. Foi para ali que foram levados o corpo do monarca e do seu herdeiro, Luís Filipe.

A Rua do Arsenal também viu a consequência direta do regicídio: a República foi implantada em Portugal a partir dos balcões da Câmara Municipal de Lisboa.

Foi também na Rua do Arsenal que o capitão Salgueiro Maia, na manhã da revolução do 25 de Abril de 1974, se recusou a render e avançou com as tropas revolucionárias em direção ao Largo do Carmo, restabelecendo a democracia em Portugal.

A Rua do Arsenal hoje vive dias mais calmos, embora a proximidade do período de festas seja sinónimo do frenético entre e sai dos clientes dos estabelecimentos que resistem na tradição de vender o peixe preferido dos lisboetas na ceia do Natal.

Por Álvaro Filho