Lisbon Story

Rota do Fado

Conheça os bairros típicos do fado e descubra lugares que vão ficar na memória.

Sobre este itinerário

História do Fado

Não adianta explicar o fado. Quem tentou, perdeu-se em referências e datas contraditórias e não lhe encontrou o rasto. Há quem diga que nasceu dos cânticos mouros, entre as gentes que fundaram o bairro da Mouraria, em Lisboa, após a reconquista cristã. Outros acreditam que veio substituir a canção de gesta medieval, embora também se especule se não terá evoluído a partir da modinha, popular nos séculos XVIII e XIX, e resultado numa fusão com o lundu, de origem angolana. Quer mesmo saber a origem do fado? Para quê, se o mistério lhe fica tão bem? Oiça-o, de preferência no seu habitat, que é nas ruas dos bairros típicos lisboetas, e deixe-se perder com ele, em improvisos de guitarra. É assim que o encontra.

Fado é uma palavra que vem do latim e significa "destino". Ter na raiz algo tão denso e grave como o destino marcou-lhe o carácter. É por isso que gosta tanto de cantar emoções fortes, amores e desamores, traições, ciúmes, vinganças e desgraças. Mas, ao contrário do que afirmam, o fado nem sempre é triste. Tantas vezes atrevido e boémio, sabe como ninguém cantar a graça do seu povo: as varinas, os marinheiros, os vadios, as gaiatas, enfim, toda a movida de Lisboa.

A única certeza que existe em relação às origens do fado é que nasceu no coração desta cidade, fruto de um caldo de cultura que mistura mouros com gente do mar. Daí o namoro pegado com os seus bairros centenários e as suas vielas de traça moura a descer pelas encostas até ao cais.

Embora de cariz popular, a canção de Lisboa também seduziu a aristocracia boémia, de tal forma que da história do fado faz parte o mito do envolvimento amoroso de um aristocrata, o Conde de Vimioso, com a Maria Severa Onofriana (1820-1846), meretriz consagrada pelos seus dotes de cantadeira. Desta lenda versam muitos fados e até sobre ela se escreveu um romance.

O fado mais antigo é o "fado do marinheiro", que constituiu o modelo para todos os outros. Desta raiz comum partiram vários caminhos, que resultaram em estilos diversos: fado castiço, fado aristocrata, fado corrido, fado boémio são algumas das facetas desta velha toada lisboeta. Até se institucionalizar o hábito de ouvir fado em casas da especialidade, a canção de Lisboa corria livre pela boca de artistas amadores. Só a partir dos anos 30 as casas de fado surgiram em força, sobretudo no Bairro Alto. Esta evolução afastou-o do improviso, mas não o bastante para acabar de vez com as tasquinhas onde as atuações espontâneas se sucedem ao sabor da inspiração do momento.

Os primeiros registos discográficos produzidos em Portugal datam dos alvores do século XX, mas o mercado nacional nesta época ainda era muito incipiente e o internacional desconhecia por completo a estranha e doce toada lisboeta.

O tempo de ouro do fado começam nos anos 40. A partir dessa década e até aos anos 60 multiplicam-se talentos e nascem estrelas de primeira grandeza, como Amália, que levam finalmente o fado aos quatro cantos do mundo, consagrando-o nos circuitos da World Music. Em anos mais recentes uma nova geração de fadistas e instrumentistas tem trazido ao fado sons de fusão que, sem lhe alterarem o carácter, conferem insuspeitadas facetas. Em Novembro de 2011 o fado foi declarado pela Unesco Património Cultural Imaterial da Humanidade. E a história do fado, claro, não acaba aqui...

Glossário

Amaliano

Relativo a Amália Rodrigues, um ícone do fado.

Casa de fado

Nome por que são designados os restaurantes onde se canta o fado.

Desgarrada

Uma desgarrada de fado é fado que se canta ao desafio entre vários intérpretes.

Destino

No fado, destino é um lugar que se visita muitas vezes, pois é um tema que inspira sentimentos de nostalgia, tão característicos da canção de Lisboa.

Fadinho chorado

Fados com versos inspirando tristeza.

Fadista

Intérprete do fado.

Fadistagem

Vida de fadista; grupo de fadistas.

Fado-canção

Versão menos tradicional do fado, que admite acompanhamento instrumental além da guitarra portuguesa e da viola.

Fado castiço

Fado tradicional dos bairros típicos de Lisboa.

Fado corrido

Fado alegre, desgarrado e dançável.

Fado marialva

Fado alegre, com múltiplas referências à tradição tauromáquica.

Fado menor

Fado melancólico, triste e saudoso.

Fado vadio

É a expressão usada para classificar o fado cantado de improviso, sobretudo por amadores. Em regra não tem fins comerciais.

Guitarra portuguesa

Instrumento fundamental do fado, a guitarra portuguesa foi outrora designada por guitarra mourisca, por se assemelhar ao alaúde que os árabes introduziram na Península Ibérica, no século VII. É constituída por seis pares de cordas e já teve diversas afinações, mas a que perdurou foi a que começa pelas cordas mais agudas, apropriada para o fado.

Mouraria

Bairro típico de Lisboa, identificado por alguns estudiosos como possível berço do fado; bairro onde viveu e morreu a Severa, personagem mítica do fado.

Noturno

Fado aristocratizado, cantado nos salões.

Saudade

Palavra portuguesa que não tem tradução e por isso identificada como expressão de um sentimento característico do povo português. É um dos temas mais cantados pelo fado.

Severa

Maria Severa Onofriana (1820-46), meretriz e cantadeira, popularizada como Severa, é considerada a primeira fadista profissional de Lisboa. O seu romance com o fidalgo Conde de Vimioso abriu-lhe a porta dos salões da aristocracia, onde atuou em diversas ocasiões. Viveu e morreu na Mouraria, considerado por muitos o bairro típico lisboeta onde nasceu o fado.

Xaile

É um acessório que faz parte da indumentária tradicional das fadistas.

Verbenas

Festas com arraiais noturnos, onde muitas vezes se canta o fado.

Artistas

Alain Oulman

15 de Junho de 1928 a 29 de Março de 1990 (Compositor)

Filho de um casal francês radicado em Portugal, Alain Oulman foi um dos compositores mais importantes da história do fado. Fascinado pela voz de Amália, criou para ela alguns dos maiores êxitos do seu reportório, como "Gaivota", "Com que Voz" e "Maria Lisboa". Ao longo da sua carreira Amália gravou 22 composições suas em oito álbuns. Além do seu talento, Oulman trouxe também para o fado a poesia erudita portuguesa, criando um precedente que marcaria para sempre a sua evolução.

Alberto Janes

13 de Março de 1909 a 23 de Outuburo de 1971 (Compositor)

Farmacêutico de profissão mas músico por paixão, Alberto Janes assinou alguns dos maiores êxitos de Amália Rodrigues, como os fados "Foi Deus", "Vou dar de beber à dor" e "É ou não é". Alguns dos álbuns de maior sucesso da diva são compostos na íntegra por temas da sua autoria. Músico de raro talento, o seu legado continuou a fazer-se sentir no fado, sobretudo ao longo das décadas de 70 e 80.

Ada de Castro

13 de Agosto 1937 (Intérprete)

Para Ada de Castro o fado não é aquilo que se canta, mas o que "está na garganta de quem o canta" e de facto esta fadista sempre o interpretou com intensidade e estilo próprio. Gravou, ao longo da carreira, mais de 560 temas, entre fados e marchas. Dos seus inúmeros sucessos destacam-se temas como "Rosa caída", "Cigano" e "Deste-me um cravo encarnado".

 

Alfredo Marceneiro

29 de Fevereiro de 1920 - 6 de Outubro 1999 (Intérprete; Compositor)

Alfredo Rodrigo Duarte ficou conhecido como Alfredo Marceneiro devido à sua profissão. Começou por cantar fados nos bailes populares que frequentava, ainda muito jovem, mas só se dedicou exclusivamente ao fado quando já contava 48 anos. Marceneiro impôs-se pela sua forma peculiar de interpretar o fado, dividindo os versos cantados ao seu jeito e apresentando-se ao público sempre de mãos nos bolsos e lenço de seda ao pescoço. Também compositor, são da sua autoria temas hoje considerados fados tradicionais.

Amália Rodrigues

29 de Fevereiro de 1888 - 6 de Outubro de 1999 (Intérprete)

Com uma voz inconfundível e uma capacidade interpretativa excecional, Amália Rodrigues tornou-se um ícone. É reconhecida como a mais importante embaixadora do fado, tendo-o cantado nos cinco continentes, ao longo de uma carreira que começou em 1939 e se estendeu por cerca de 50 anos. Ao adotar no seu reportório composições e autores mais sofisticados, Amália deu também um importante contributo para a modernização do fado.

Ana Moura

17 de Setembro de 1979 (Intérprete)

Como vários fadistas da sua geração, Ana Moura não se inibe de passear pela pop mesmo quando canta o fado. O seu timbre particular e a paixão que coloca em cada nota despertaram cedo as atenções do meio fadista. A sua carreira evoluiu num ápice, mesmo ao nível internacional. Cantou no Carnegie Hall, em Nova Iorque, gravou e atuou com os Rolling Stones, participou num espetáculo de Prince. É uma das maiores e mais recentes estrelas do fado.

António Chaínho

27 de Janeiro de 1938 (Guitarrista; Compositor)

António Chaínho aprendeu com o pai a dedilhar a guitarra e aos 13 anos fez a sua primeira apresentação pública. Acompanhou os maiores fadistas de várias gerações e participou em eventos internacionais ao lado de grandes solistas como Paco De Lucia e John Williams. Além de executante exímio, Chaínho também é compositor. Tem sido incansável na divulgação da guitarra portuguesa.

António Parreira

13 de Junho de 1944 (Guitarrista; Compositor)

Inicia-se como instrumentista tocando nas tascas, no Alentejo, onde nasceu, mas é em Lisboa que desenvolve uma carreira que o leva a tocar nas melhores casas de fado, acompanhando grandes fadistas como Alfredo Marceneiro, Amália Rodrigues, Carlos do Carmo e Tristão da Silva. Além de excelente executante, também foi compositor, sendo da sua autoria dezenas de fados. Integra o corpo docente da escola de guitarra do Museu do Fado.

António dos Santos

14 de Março de 1919 - 18 de Setembro de 1993 (Intérpete; Autor; Compositor)

Uma das referências do fado jocoso, durante a primeira metade da sua carreira António dos Santos especializou-se nesse tipo de fado humorístico, cantando com um estilo muito próprio que rapidamente o popularizou. Nos anos 60 ganhou a alcunha do "baladeiro de Alfama", bairro que habitou durante quase toda a vida e onde geriu uma casa de fados de grande sucesso. Além de intérprete foi um exímio autor e compositor. "Gaivotas em Terra" e "Partir é Morrer um Pouco" são dois temas que assinou e que alcançaram maior sucesso.

António Rocha

20 de Junho de 1938 (Intérprete; Autor)

A vocação de fadista revelou-se de pequenino. Aos 13 anos ganhou o seu primeiro concurso de fado e aos 18 tornou-se profissional, apadrinhado pela fadista Deolinda Rodrigues. A sua popularidade nos anos sessenta valeu-lhe o título de "rei do fado". Autor da maior parte dos poemas que canta, António Rocha sempre fez questão de ter reportório próprio. Foi artista residente de algumas das mais conceituadas casas de fado e professor de intérpretes na Escola Guitarra Portuguesa do Museu do Fado.

António Zambujo

19 de Setembro de 1975 (Intérprete; Compositor)

Nasceu em Beja e cresceu a ouvir cante alentejano. Apesar de ter começado a cantar fado muito jovem, essa influência nunca o abandonaria, conferindo às suas interpretações e composições uma toada muito particular. Esta originalidade destacou-o no panorama musical. Em 2006 ganha o Prémio Amália Rodrigues, atribuído pela fundação do mesmo nome, na categoria de melhor interpretação masculina. Com dois dos seus álbuns destacados, em 2008 e 2010, pela revista britânica Songlines com o prémio "Top of the World Album" e o seu álbum Guia incluído pela revista francesa Mondonix na lista dos 50 melhores discos de 2010, Zambujo consagrou-se como um dos nomes de topo da World Music.

Argentina Santos

6 de Fevereiro de 1924 (Intérprete)

Proprietária do emblemático restaurante Parreirinha de Alfama, local onde atuaram grandes nomes do fado, Argentina Santos nunca planeou ser fadista. Mas um dia, por brincadeira, foi desafiada a cantar. A assistência aplaudiu tanto que atrás de um fado veio outro e assim, sem dar por isso, começou a sua carreira artística. Com reportório próprio, constituído a partir de composições e versos oferecidos por autores que frequentavam o seu restaurante, Argentina cantou ao longo de 50 anos de carreira, ao lado de quase todos os intérpretes relevantes do fado.

Armandinho

11 de Outubro de 1891 - 21 de Dezembro de 1946 (Guitarista; Compositor)

Foi um marco na execução da guitarra portuguesa. Desenvolveu uma técnica que lhe permitia adaptar o instrumento à voz e estilo dos fadistas que acompanhava. Dessa forma conseguia evidenciar as qualidades interpretativas dos artistas para quem tocava, mas também sair da situação de subalternização em que, em geral, os instrumentistas ficavam. Além de excelente executante, Armandinho também foi autor de muitos fados que sobreviveram até aos nossos dias.

Beatriz da Conceição

21 de Agosto de 1939 - 26 de Novembro de 2015 (Intérprete)

Nasceu e viveu no Porto até ao dia em que, num passeio a Lisboa, entrou numa das mais afamadas casas de fado e cantou de improviso. Nesse mesmo momento foi contratada. Cheia de garra, tem um repertório muito variado, mas é nos temas mais dramáticos que revela toda a sua força interpretativa.

Camané

20 de Dezembro de 1966 (Intérprete)

Um dos nomes consagrados da sua geração, Camané revelou-se aos 12 anos, quando venceu o concurso Grande Noite do Fado. Embora se considere fadista, gosta de fazer incursões por outras áreas musicais. Atuou, sempre com popularidade crescente, em casas de fado, programas televisivos, musicais e até para o cinema, nomeadamente para o filme "Fados", do realizador espanhol Carlos Saura. Em 2005 a Fundação Amália Rodrigues atribuiu-lhe o prémio de melhor intérprete masculino do fado.

Carlos do Carmo

21 de Dezembro de 1939 (Intérprete)

Filho único da fadista Lucília do Carmo, Carlos do Carmo cresceu entre tertúlias e guitarradas. Embora familiarizado com o meio, seguir a mesma carreira da mãe não fazia parte dos seus planos. Mas o sucesso que obteve a cantar para rodas de amigos acabaria por ditar-lhe o futuro. Com um estilo muito próprio, Carlos do Carmo afirmou-se como uma das maiores referências da atual interpretação do fado. Em 2014 ganhou um Grammy na categoria "Lifetime Achievement" e o Grammy Latino de Carreira.

Carlos Paredes

16 de Fevereiro de 1925 - 23 de Julho de 2004 (Guitarista; Compositor)

Guitarrista de génio, Carlos Paredes é herdeiro de uma vasta tradição familiar onde a guitarra esteve sempre presente. Profundamente influenciado pelo fado de Coimbra, sua terra natal, é responsável pela renovação e reinvenção da sonoridade da guitarra, ao ponto de se poder afirmar que há um antes e um depois de Carlos Paredes. Além de extraordinário executante, é um dos mais importantes compositores de guitarra portuguesa de sempre.

Carlos Ramos

10 de Outubro de 1907 - 9 de Novembro de 1969 (Intérprete)

Carlos Ramos iniciou a sua carreira no fado como guitarrista, mas após começar a cantar a sua carreira como fadista não mais parou de somar sucessos. A sua voz particular conquistou o público com êxitos como "Não Venhas Tarde" e "Canto o Fado". Cantou nas mais afamadas casas de fado nos anos 40 e 50 e chegou a ser proprietário de uma delas, "A Toca", uma referência das noites fadistas.

Carlos Conde

22 de Novembro de 1901 - 13 de Julho de 1981 (Autor)

Destacado poeta popular, Carlos Conde escreveu centenas de poemas para fado como autor de reportórios dos maiores intérpretes. Com o seu talento descreveu os becos e as vielas de Lisboa como ninguém, fixando em estrofes todo o imaginário do fado. Andou, literalmente, nas bocas do mundo, através dos seus poemas mais famosos. Em 2001 o município lisboeta homenageou-o, atribuindo o seu nome a uma das ruas da cidade.

Carminho

20 de Agosto de 1984 (Intérprete)

É umas das mais internacionais artistas portuguesas, contando no seu currículo com êxitos seus no top de vários países, incluindo Espanha, onde foi a primeira cantora lusa a chegar ao número 1 de vendas. Em 2009, quando lançou o seu primeiro álbum, "Fado", foi apontada por alguma imprensa como "a maior revelação da última década" e a revista britânica Songlines destacou esse trabalho discográfico incluindo-o na lista dos dez "best album" desse ano. "Alma", o seu mais recente disco, catapultou-a definitivamente para os tops internacionais.

Celeste Rodrigues

14 de Março de 1923 (Intérprete)

O fado corre nas veias desta fadista, irmã de Amália Rodrigues. Começou cedo a cantá-lo em rodas de amigos. Um dia, um empresário, proprietário de várias casas típicas, ouviu-a e decidiu fazer dela fadista profissional. Com o seu talento depressa se tornou popular. Cantou nas melhores casas de fado e chegou mesmo a ser proprietária de uma, a Viela. No auge da sua carreira artística, já com muitas tournées internacionais no currículo, foi convidada a gravar para a BBC de Londres. É uma das referências da sua geração.  

Cidália Moreira

1 de Janeiro de 1944 (Intérprete)

No caso de Cidália Moreira, a expressão "interpretação" aplica-se no seu mais puro sentido. Dona de uma voz poderosa, a fadista não se limita a projetá-la enquanto canta, interpretando cada verso com uma emoção que não deixa ninguém indiferente. Neste sentido Cidália é uma das artistas mais singulares do universo do fado. Tem um estilo inconfundível.

Ercília Costa

3 de Agosto de 1902 - 16 de Novembro de 1985 (Intérprete)

Foi a primeira fadista a internacionalizar-se junto das comunidades emigrantes. As suas primeiras gravações discográficas datam de 1929. Chamavam-lhe a "santa do fado" por ter o hábito de cantar de mãos postas. Popularizou temas como "Amor de Mãe", "o Meu Filho", "Juro", ou "Fado da Amargura".

Fernanda Baptista

7 de Maio de 1919 - 25 de Julho de 2008 (Intérprete)

Esteve no ativo até aos 87 anos, idade em que integrou o elenco de um espetáculo de teatro musical, género que foi uma constante na sua carreira. Foi nos palcos do "teatro de revista" – tipo de musical muito popular em Lisboa - que se afirmou como grande fadista, poderosa e com presença carismática.

Fernanda Maria

6 de Fevereiro de 1937 (Intérprete)

Herdou do pai o gosto pelo fado. Ao ouvi-lo cantar, como amador, para os amigos apanhou-lhe o jeito e acabou a dar os primeiros passos de uma carreira que a levou até aos principais palcos do mundo fadista. Em 1964 abriu uma das casas de fado mais afamadas, a Lisboa à Noite, onde atuaram alguns dos maiores artistas do meio. É dona de uma voz inconfundível.

Fernando Alvim

6 de Novembro de 1934 - 27 de Fevereiro de 2015 (Violista; Guitarrista)

Foi um dos mais notáveis músicos portugueses. Durante três décadas fez parceria com o genial guitarrista Carlos Paredes. O seu trabalho conjunto constituiu um marco na história da música portuguesa. Alvim explorou várias áreas musicais, nomeadamente jazz e bossa nova, mas no fado é uma referência incontornável. Acompanhou como violista várias gerações de fadistas.

Fernando Farinha

20 de Dezembro de 1928 - 12 de Fevereiro de 1988 (Intérprete, Autor, Compositor)

Residente, em criança, no bairro lisboeta da Bica, Fernando Farinha destacou-se tão cedo a cantar o fado – apenas com nove anos – que ficou conhecido por "miúdo da Bica". Como aos 11 anos ficou órfão de pai, conseguiu uma licença especial para trabalhar como fadista profissional e assim ajudar com os seus cachets ao sustento da família. Durante a sua carreira, além de cantar e encantar as audiências com grandes interpretações também foi autor e compositor de diversos fados. Tem o seu nome numa rua de Lisboa.

Fernando Maurício

21 de Novembro de 1933 - 15 de Julho de 2003 (Intérprete)

Nasceu na Rua do Capelão, morada que também foi da mítica Severa. No coração da Mouraria habituou-se desde criança a ouvir e a cantar o fado. Aos 13 iniciou a sua carreira profissional. Dotado de uma das vozes mais originais do fado, Fernando Maurício conquistou no seu tempo o título de "rei do fado e da Mouraria". Fez uma carreira brilhante, reconhecida pelo público e pelos seus pares.

Fontes Rocha

20 de Setembro de 1926 - 15 de Agosto de 2011 (Guitarista; Compositor)

Exímio executante e compositor, Fontes Rocha desenvolveu uma série de aperfeiçoamentos na sonoridade das guitarras, proeza que lhe garantiu o reconhecimento unânime do seu enorme talento. Na década de 60 destacou-se como guitarrista de Amália Rodrigues, com quem percorreu todos os palcos do mundo. Foi autor dos arranjos e responsável pelo som do álbum de Amália "Com que Voz", um dos mais premiados da diva do fado.

Frederico de Brito

1894 - 1977 (Compositor; Autor)

Poeta e compositor de alguns dos temas mais interpretados no universo fadista, Frederico de Brito tornou-se um dos autores mais procurados da sua geração. Escreveu e compôs também para o teatro e para as marchas populares de Lisboa, crendo-se que até ao final da sua longa vida tenha escrito mais de mil letras e várias centenas de músicas. "Fado do Britinho", "Janela Virada para o Mar" e "Canoas do Tejo" são alguns dos seus fados mais célebres.

Frederico Valério

11 de Junho de 1913 - 29 de Maio de 1982 (Compositor)

Frederico Valério foi autor de um vasto número de composições que se tornaram importantes referências do fado. No início da década de 40 a sua carreira artística cruzou-se com a de Amália, para quem compôs alguns dos seus maiores sucessos, como "Ai Mouraria" e "Fado Malhoa". Depois da consagração em Portugal rumou para os Estados Unidos, no final dos anos 40, onde um dos seus temas subiu ao Hit Parade e compôs dois musicais para a Broadway. Ao longo da sua carreira internacional gravou temas que alcançaram popularidade no Brasil, EUA, Alemanha, França e Inglaterra.

Gisela João

6 de Novembro de 1983 (Intérprete)

É possível nascer-se fadista? Gisela João prova que sim. Nasceu e cresceu em Barcelos, no Minho, e depois foi viver para o Porto. Tão longe do universo do fado, e no entanto ainda muito nova começa a trautear os que ouve na rádio. Sem dar por isso acaba a cantar numa casa de fados no Porto e a seguir vieram as de Lisboa, tinha de ser. Por onde passou, encantou. E quando grava o seu primeiro disco, logo o identificam como marco da história do fado. Há quem diga que existe um fado antes e outro depois da Gisela João...

Hermínia Silva

23 de Outubro de 1907 - 13 de Junho de 1993 (Intérprete)

Extremamente popular, destacou-se pelo improviso fácil e presença bem- -humorada. Multifacetada, além de ser fadista também pisou os palcos do teatro musicado e fez cinema. Como cantadeira sempre teve uma atitude inconfundível, tanto na forma de interpretar o fado como na presença em palco. Foi uma das figuras mais emblemáticas do fado castiço.

João Braga

15 de Abril de 1945 (Intérprete)

Teve uma paixão precoce pela bossa-nova, pelo jazz e pelo rock’n’roll. Esse encantamento aconteceu na adolescência, mas ficou para a vida. Entretanto, o fado insinuou-se de tal forma que acaba por definir-lhe a carreira, algo que não estava programado. Todas estas influências musicais fizeram de João Braga um fadista exigente. Do seu reportório constam os melhores compositores e poetas como Fernando Pessoa e Manuel Alegre. É um dos maiores impulsionadores da renovação do fado, através da promoção de novos talentos.

João Linhares Barbosa

15 de Julho de 1893 - 19 de Agosto de 1965 (Autor)

Foi autor de mais de 3.000 versos, todos de uma qualidade que o guindaria ao estatuto de "figura incontornável do fado". Além de poeta talentoso foi um dos maiores defensores da carreira dos fadistas. Em 1922 fundou o jornal "Guitarra de Portugal", periódico que veio a ser um dos mais emblemáticos da imprensa especializada.

Joel Pina

17 de Fevereiro de 1920 (Violista)

Joel Pina é uma referência na história do fado, não só pelo seu virtuosismo como instrumentista como também pelo papel fundamental que desempenhou na integração da viola baixo no universo fadista. Antes este não era um instrumento habitual no acompanhamento do fado. Foi Joel Pina que, a partir dos anos 50, o introduziu neste ambiente sonoro. Integrou o quarteto de guitarras Raul Nery e acompanhou fadistas de primeira grandeza como Maria Teresa de Noronha e Amália, com quem correu mundo.

José Carlos Ary dos Santos

7 de Dezembro de 1937 - 18 de Janeiro de 1984 (Autor)

Poeta de enorme talento, da sua pena saíram alguns dos mais belos versos cantados em fado. À qualidade lírica da sua poesia juntou uma liberdade criativa que renovou a canção tradicional lisboeta. O exemplo maior da sua influência está no disco de Carlos do Carmo "Um Homem na Cidade", para o qual escreveu todas as letras, e que marcou a história do fado. Embora se tenha destacado particularmente na música ligeira portuguesa, contribuindo para a sua renovação, o legado que deixou no fado é inestimável. 

Lucília do Carmo

4 de Novembro de 1919 - 19 de Novembro de 1998 (Intérprete)

Tinha 17 anos quando Lucília do Carmo recebeu o seu cartão profissional. Embora tivesse nascido no Alentejo, a canção de Lisboa entrou-lhe cedo na alma e consagrou-a como uma das maiores fadistas da sua geração. "Maria Madalena", "Travessa da Palha" e "Loucura" são alguns dos seus maiores sucessos. Foi proprietária e cabeça de cartaz de uma das casas de fado mais afamadas do Bairro Alto, a "Faia", e mãe do grande fadista Carlos do Carmo.

Manuel de Almeida

27 de Abril de 1922 - 31 de Dezembro de 1995 (Intérprete)

Nasceu na bica. Aos dez anos já cirandava pelos retiros fadistas, fascinado com as tertúlias, os acordes das guitarras e sobretudo com a atitude dos intérpretes do fado. Na adolescência já o cantava como amador, mas a sua carreira profissional despontou mais tarde, numa noite em que se aventurou a cantar numas das casas mais credenciadas dos anos 50, a Tipóia. Cantou dois fados e foi logo contratado e a partir daí não mais parou. Especializou-se no fado castiço.

Maria da Fé

25 de Maio de 1942 (Intérprete)

Começou a cantar ainda criança em festas de amadores e entrou muito jovem para o elenco de uma das mais famosas casas de fados, a Adega Machado, onde iniciou a sua carreira profissional. Em 1975 abriu com o marido a sua própria casa, o Senhor Vinho. Intérprete de temas tão emblemáticos como "Cantarei até que a voz me doa" e "Valeu a Pena", é tem uma voz poderosa e inconfundível.

Mariza

16 de Dezembro de 1973 (Intérprete)

Com Mariza já atuaram músicos das mais diversas nacionalidades e a sua voz misturou-se com vozes famosas como a de Sting ou Tito Paris. Ela canta fado, mas deixa que lhe misturem sons jazzísticos, de flamenco ou ritmos de morna, porque gosta de arriscar e fazer experiências sonoras. Nome maior da nova geração de fadistas, foi escolhida para embaixadora da candidatura do fado a Património Imaterial da Humanidade. Já com uma sólida carreira internacional, o jornal britânico The Guardian chamou-lhe "diva da música do mundo".

Maria Teresa de Noronha

7 de Setembro de 1919 - 5 de Julho de 1993 (Intérprete)

Fidalga por nascimento, Maria Teresa de Noronha começou muito jovem a cantar no círculo fechado das festas de família, mas o seu evidente talento haveria de a projetar numa carreira que desenvolveu sobretudo na rádio. Durante 23 anos consecutivos cantou num programa de rádio ao vivo até ao dia em que decidiu retirar-se, corria o ano de 1962. Tornou-se uma figura emblemática de um género de fado a que se convencionou chamar "fado aristocrático".

Mário Moniz Pereira

11 de Fevereiro de 1921 - 31 de Julho de 2016 (Compositor; Autor)

Amante confesso do fado, foi um notável compositor e letrista. Ao longo da sua vasta carreira escreveu mais de 130 temas, interpretados e gravados por artistas de várias gerações. "Fado Varina" e "Valeu a Pena" são exemplos de alguns dos seus temas que entraram diretamente para o património musical e poético do fado. 

Mário Pacheco

9 April 1953 (Guitarist and composer)

É considerado um dos mais brilhantes e talentosos guitarristas da atualidade. Filho do guitarrista António Pacheco, que acompanhou as grandes vozes do fado, seguiu-lhe as pisadas como executante mas destacou-se também como compositor. "Um Outro Olhar", o seu primeiro álbum, lançado em 1992, faz justiça ao título, revelando uma abordagem muito pessoal ao fado. Anos depois, a revista especializada britânica Songlines destacaria o seu álbum "A Música e a Guitarra" como um dos melhores de 2007 na categoria de world music.

Mísia

18 de Junho de 1955 (Intérprete)

Filha de um português e de uma espanhola, passou parte da juventude em Espanha. Familiarizou-se com o fado através da mãe, que o ouvia em casa. Quando regressa a Portugal, em 1990, grava um disco, "Mísia", que a apresenta ao público português com uma personalidade vincada e uma abordagem ao fado fora dos cânones tradicionais. Gosta de cantar os poetas eruditos, preferência que lhe valeu o epíteto de "fadista intelectual". Tem uma carreira internacional consolidada, sobretudo em Espanha, França, Inglaterra, Argentina e Japão.  

Raul Nery

10 de Janeiro 1921 (Guitarista)

Estreou-se a tocar guitarra em público aos nove anos e aos 18 já o fazia ao lado de músicos consagrados. Acompanhou Amália em várias digressões pelo mundo, além de outros nomes importantes do fado. Em finais da década de 50 forma o Conjunto de Guitarras Raul Nery, constituído por quatro músicos excecionais: Raul Nery, José Fontes Rocha, Júlio Gomes e Joel Pina. É consensualmente considerado um dos maiores executantes da guitarra portuguesa.

Raquel Tavares

11 de Janeiro de 1985 (Intérprete)

Começou a frequentar as tertúlias fadistas muito cedo e embora não tivesse nascido em Alfama, assim que se emancipou foi neste bairro que fixou morada. Edita o seu primeiro disco em 2006, o que lhe valeu o prémio revelação "Amália Rodrigues". É identificada como uma intérprete tradicional do fado, mas o seu estilo de interpretação empresta-lhe uma frescura que o renova a cada verso que canta.

Severa

26 de Julho de 1820 - 30 de Novembro de 1846 (Intérprete)

Maria Severa Onofriana é uma figura mítica do fado. Celebrizou-se como Severa e é identificada como a primeira fadista de que há memória. O seu envolvimento amoroso com um fidalgo, o conde de Vimioso, também terá contribuído para a sua fama. Nascida no seio de uma família modesta, estabelecida no bairro da Madragoa, Severa sustentou-se na vida como meretriz e cantadeira. O local onde morou e veio a morrer, na Rua do Capelão, bairro da Mouraria, está hoje assinalado com uma placa em sua memória.

Tristão da Silva

18 de Julho de 1927 - 10 de Janeiro de 1978 (Intérprete)

Quando o contrataram para cantar pela primeira vez tinha apenas 9 anos. Desde então nunca mais deixou de perseguir o sonho de se tornar fadista profissional, algo que viria a concretizar-se aos 27 anos, quando dois fados o lançaram para o estrelato: "Nem às Paredes Confesso" e "Maria Morena". Ao longo da carreira participou em diversos programas de rádio e fez parte do elenco das mais célebres casas de fado. A sua voz grave e romântica cativou multidões.

Vicente da Câmara

7 de Maio de 1929 - 28 de Maio de 2016 (Intérprete; Compositor)

De origem fidalga, Vicente da Câmara deu continuidade à tradição do aristocrata-fadista, tal como outros membros da sua família. Teve um tio-avô e uma tia fadistas e um dos seus filhos, José da Câmara, também seguiu a mesma vocação. Além de um excelente intérprete do fado, também se afirmou como autor. O seu maior sucesso foi o fado "A Moda das Tranças Pretas".

Lisbon Story

Rota Lisboa Africana