Há um bairro em Lisboa que ousou desafiar a arquitetura do Estado Novo, quando o país vivia sob a ditadura. É o bairro das Estacas, em Alvalade, entre a Avenida de Roma e a Estados Unidos da América.

Foi um projeto que rompeu com o modelo de arquitetura tradicional vigente na época, ao construir-se um conjunto de blocos habitacionais, paralelos entre si, assentes sobre pilares - e daí o seu nome, claro.

O bairro foi desenhado pelos arquitetos Ruy Athouguia e Sebastião Formosinho Sanches, e foi premiado na Bienal de São Paulo em 1950 e venceu o Prémio Municipal de Arquitetura em 1954.

Os pilares permitiram que, ao longo dos blocos, surgissem espaços verdes - estes da autoria do arquiteto-paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, e percursos pedonais, dando nova vida a esta zona da cidade. Uma lufada de ar fresco em Alvalade, portanto.

O bairro tornou-se numa referência da arquitetura moderna, seguindo os princípios do urbanismo da famosa Carta de Atenas, segundo a qual a Luz, o Ar e o Espaço passam a ser matéria-prima do desenho urbano. Neste momento, está em vias de classificação - e permanece tão emblemático quanto nos anos 1950.