A Avenida Almirante Reis é hoje conhecida pelo seu multiculturalismo, pelas diferentes vivências que ali se cruzam todos os dias. Mas de onde vem este seu nome misterioso? Quem foi, afinal, este “Almirante Reis”?.

Este almirante, Carlos Cândido dos Reis, nasceu a 16 de janeiro de 1852, em Lisboa. Iniciaria a sua carreira naval cedo, aos 17 anos, quando se alistou voluntariamente na Armada. Com o tempo, chegaria ao cargo de vice-almirante. Republicano de convicções fortes, a sua história - e a de como deu o nome a uma Avenida - é na verdade trágica.

Carlos Reis era viúvo e estava reformado em 1910. Mas à uma da manhã do dia 4 de outubro, na véspera do dia em que se celebra a implantação da República, ele tinha uma tarefa: comandar a marinha de guerra para assim se iniciar a revolução.

No Cais da Viscondessa, o vice-almirante aguardava os navios de guerra, mas não encontrou o barco que esperava. Foi então que recebeu a notícia de que a revolução, pela qual tanto ansiara, falhara. Entretanto, diz-se que encontrou republicanos pelo caminho para casa que lhe disseram que nada estava a acontecer em Lisboa. De manhã cedo, apareceu morto com um tiro de pistola em frente ao hospital de Arroios.

O almirante ficou sem saber aquilo que verdadeiramente aconteceu: os navios chegaram realmente a revoltar-se. Sargentos e soldados acampados na rotunda que é hoje o Marquês de Pombal conseguiram conduzir a monarquia ao seu fim. E houve alguém que escondeu a sua morte, para que a revolução vencesse: foi o político Machado Santos, que disse aos seus compatriotas que o almirante Reis assumia a liderança das tropas da marinha.

Um outro grupo de republicanos foi mais longe ainda: reunidos na redação do jornal A Luta, imprimiram um panfleto onde se anunciava que o vice-almirante Reis avançava com as tropas. Não foi o que aconteceu, mas sem este republicano, que nunca vacilara até àquele dia, talvez não tivesse havido revolução.

O Almirante Reis foi um dos mártires da revolução, ao lado de Miguel Bombarda, médico psiquiatra republicano que foi assassinado por um paciente no dia 3 de outubro. No entanto, este almirante foi eternizado, atribuindo-se o seu nome à antiga Avenida D. Amélia, lugar que, entre 1908 e 1910, fora de ajuntamentos e manifestações republicanas.

Hoje, é esse lugar vibrante, mas cuja história é tantas vezes esquecida.